janeiro 15, 2014

Mais défice menos dívida ou as contas da cigarra

Acabo de ler uma coluna de Pedro Nuno Santos no jornal i que se esforça por tentar justificar que a dívida pode cair com mais despesa, metendo os pés pelas mãos, tratando valores absolutos e percentagens ao mesmo nível.

Então, PNS conclui que em 2010 o défice primário foi 3 vezes superior ao de 2012 mas que a dívida pública cresceu apenas 10,3% no primeiro desses anos e 15,9% no segundo. E porquê, justifica: porque o PIB nominal cresceu 2,5% em 2010 e caiu 3,5% em 2012 pelo que, refere, é possível com mais défice, a dívida crescer menos.

Ora, contas socialistas são assim...
Baralhadas.

Ora, a dívida não cresce em % do PIB. A dívida cresce em valor absoluto. E cresce diretamente em função do défice. O resto são poeira para os nossos olhos.

O valor da dívida em % do PIB é apenas um referencial para se avaliar a relatividade e o peso da dívida face à produção do País.

Foi até um socialista (em Paris) que referiu que a dívida não interessa nada. Pois gere-se e não se paga. E teria toda a razão do Mundo, caso o défice fosse inexistente. Aí, a dívida “congelava”,  sendo suportaveis para o País, os custos dessa gestão (o serviço da dívida).

Ora, qualquer aumento do défice (mais despesa ou menos austeridade) será sempre mais dívida. Mesmo que, por via do crescimento do PIB, seja menos percentagem da dívida em relação ao PIB...

E mais dívida serão sempre menos (ou nenhuns) a nos quererem emprestar dinheiro e/ou mais juros a pagar. Muito mais juros a pagar, logo mais despesa, mais défice e ... BUUUMMM. Já foste...

Por outro lado, mais despesa (ou menos austeridade) não garante mais PIB (apesar de isso ser uma possíbilidade). Mas garante, certamente, a necessidade de alguém nos emprestar mais esse dinheiro (para além do outro, ou seja, do valor do défice). O problema é que nos últimos anos (e nos próximos se não continuarmos a baixar o nosso défice) apenas conseguimos os empréstimos da ... TROIKA. Que – e bem – apenas nos emprestou, porque nos comprometemos a baixar o défice (menos despesa, mais austeridade).

Mais despesa e menos austeridade e não teríamos a TROIKA a nos ajudar. E aí, não só não poderiamos suportar os mais 0,2% de défice que Seguro propõe, como não teríamos como suportar os restantes 4% (ou perto disso) previstos para o défice de 2014. Aí, em vez de não se ter umas centenas de milhões a mais na despesa pública passaríamos a nos ter de acomodar com menos alguns milhares de milhões na mesma ... ou seja, com o défice integral.

Socialistas e cigarras, sempre souberam dividir o bolo. Infelizmente não têm a mínima ideia de como faze-lo. E se não são outros (e as formigas) a fazer o trabalho prévio, o caldo entorna-se. Acontece que, em Portugal, as formigas não tiveram tempo de fazer bolo algum. Tão só de estancar a sangria anterior. Ou seja, as cigarras querem saltar novamente, mas, não havendo bolo...