O que se está a passar em Portugal (e na Grécia e em Chipre,
etc) é coisa de simples entendimento.
A origem do problema é a mesma apesar das situações que
desencadearam a crise possa ser diferente: são países que deixaram de produzir
o suficiente para o que gastam, o que tem como consequência directa uma quebra
no nível de vida das respectivas populações. Mas a relação causa-consequência é
proporcional? Não. E aqui reside a insuficiência dos remédios disponíveis.
Se gastamos mais 20% do que recebemos, bastaria fazer um
ajuste de 20% nos nossos gastos. Aí, as coisas se ajustariam. Verdade? Falso.
Não basta. Há uma parte da população e da economia (incluindo, fiscalmente, o
Estado) que depende desses gastos. Se os referidos se reduzem, numa acção normal
de contenção, as consequências para essa outra parte da população, Economia e
Estado são significativas, obrigando a outras e mais ajustes, cortes e compensações sociais.
Mas não é só isso. Os mercados financeiros já não acreditam
em nós. Não financiam o défice e, bem pior, já não nos refinanciam a dívida. O
que significa que não só temos que passar a viver com o que produzimos (sem
empréstimos), como temos que pagar o que devemos, quase de uma só vez. É por
isto que precisamos da - e que pedimos ajuda à - troika. Para sobrevivermos (sem falhar
os compromissos da dívida) enquanto ajustamos.
Vamos fazer um paralelismo para que se entenda melhor:
Uma família tem uma dívida com um banco, contratada para a aquisição da sua habitação. A
mensalidade respectiva é paga todos os meses. Mas a família tem outros gastos
que, todos somados, excedem os ganhos (2 ordenados). Esse valor, em excesso,
acumula-se, todos os meses em 4 contas (cartões de crédito detidos pelos 2
trabalhadores).
Até que,
chega o dia em que os plafonds de crédito chegam ao máximo. Aí, não há outra
forma como resolver a questão: não havendo mais dinheiro – emprestado - a
entrar, a família tem que ajustar o seu nível de vida, não gastando o excesso
mensal a que estava habituada.
Mas isso
será suficiente?
Não. Pois é
preciso também, pagar os juros e a amortização das dívidas acumuladas no cartão
de crédito.
E se a isso
se juntar o facto das receitas terem diminuído e das despesas terem aumentado
temos o caldo entornado...
Para que o paralelismo ficasse
completo (acontece com os Países, ainda não com as famílias), haveria que
acrescentar duas coisas: a situação financeira familiar negativa elevaria os
juros cobrados nos créditos; o crédito habitação teria que ser pago em 3 anos e não
em 30 anos; e o ajuste familiar necessário teria que ser feito em 6 meses, não
dando tempo a que a família se pudesse preparar convenientemente.
Portugal (e os outros países em problemas – são mais do que
possam hoje ainda, parecer) são em muito semelhantes a esta família Mas não
têm a protecção da mesma nos aspectos finais indicados:
Com o País em insolvência, a dívida não fica estável, a
longo prazo e com juros indexados. Não. A dívida é renovada em períodos
relativamente curtos com ajustamentos em alta nos juros cobrados (o risco
cresce).
Assim, chegamos aos dias de hoje. Crise? Qual crise? Não
estamos em crise mas em ajuste em baixa. Não estamos a passar por um momento
difícil do qual recuperaremos para voltar aos “bons dias” de há poucos anos, quando
vivíamos de dinheiro emprestado. Não. Estamos a cair para um ponto de
equilíbrio (bem abaixo) onde poderemos consolidar e equilibrar. Crescer?
Talvez, mas nunca para voltar aos níveis (de ilusão) atingidos nos últimos 20
anos...
O ajuste necessário é
complicado de realizar em democracia. As populações votam em quem promete
melhorar o seu nível de vida e derrota quem se “atreve” a procurar soluções (difíceis) que não piorem as coisas no imediato. O ajuste, para não ter impactos (sociais) graves,
necessita de tempo. Que os mercados externos financiadores não admitem.
Nesse processo de ajuste é importante assegurar que a
economia se mantém produtiva e que o futuro não se hipoteca com a juventude
desempregada e em saída para o exterior (emigrando).
O problema de base é a fala de crescimento. Ora isso resolve-se
crescendo. Pois. Isso dizem todos. Mas, fazer? Como? Com medidas avulsas,
lançando dinheiro público e “quase” público (da CGD) para a economia? Não dá.
Acreditem. Não resolve nada.
Crescimentos de décimas sobre endividamento de dois dígitos
não são realistas. E imprimir dinheiro também não. Então como fazer? (continua)